RESUMO DA ENCÍCLICA MYSTICI CORPORIS
SOBRE O CORPO MÍSTICO DE JESUS CRISTO E NOSSA UNIÃO NELE COM CRISTO
INTRODUÇÃO
Para começar, note-se que assim como o Redentor do gênero humano foi perseguido, caluniado, atormentado por aqueles mesmos que vinha salvar, assim a sociedade por ele fundada também neste ponto se parece com o divino Fundador. É por isso que nós obedecendo à voz da nossa própria consciência, vamos expor à vista de todos e celebrar a beleza, louvores e glória da santa madre Igreja, a quem depois de Deus tudo devemos.
Confiamos ainda que o que vamos expor sobre o Corpo Místico de Cristo não será desagradável nem inútil aos que vivem fora do seio da Igreja católica. E isto, não só porque a sua benevolência para com a Igreja parece aumentar de dia para dia, senão também porque vendo eles atualmente como as nações se erguem contra as nações e os reinos contra os reinos, e crescem indefinidamente as discórdias, os antagonismos e as sementeiras do ódio, se volverem os olhos para a Igreja, se contemplarem a sua unidade de origem divina, por virtude da qual os homens de todas as nacionalidades se unem a Cristo com vínculos fraternos, então sem dúvida ver-se-ão forçados a admirar uma tal sociedade de amor e sentir-se-ão atraídos com o auxílio da graça a participar da mesma unidade e caridade.
Para que a incomparável formosura da Igreja resplandeça com nova glória, para que mais esplendidamente se manifeste a excelsa e sobrenatural nobreza dos fiéis que no corpo de Cristo se unem à sua cabeça: enfim para fechar de uma vez a porta a muitos erros que pode haver nesta matéria, julgamos nosso dever pastoral expor a todo o povo cristão nesta encíclica a doutrina do corpo místico de Jesus Cristo e da união dos fiéis com o divino Redentor no mesmo Corpo, e juntamente deduzir desta suavíssima doutrina alguns ensinamentos, com os quais o maior conhecimento do mistério produza frutos cada vez mais abundantes de perfeição e santidade.
A IGREJA CORPO, “MÍSTICO” DE CRISTO
Sabemos que Deus constituiu o primeiro progenitor do gênero humano em tão sublime condição, que com a vida terrena transmitiria aos seus descendentes a vida sobrenatural da graça celeste. Mas depois da triste queda de Adão toda a linhagem humana, infeccionada pela mancha original, perdeu o consórcio da natureza divina e todos ficamos sendo filhos de ira.
Deus, porém, na sua infinita misericórdia “amou tanto ao mundo que lhe deu seu Filho unigênito” (Jo 3, 16); e o Verbo do Eterno Pai, com a mesma divina caridade, revestiu a natureza humana da descendência de Adão, mas inocente e imaculada, para que do novo e celeste Adão fluísse a graça do Espírito Santo a todos os filhos do primeiro pai. E assim Jesus crucificado não só reparou a justiça do Eterno Pai ofendida, senão que nos mereceu a nós, seus consanguíneos, inefável abundância de graças. Essas graças, podia ele distribuí-las diretamente por si mesmo a todo o gênero humano. Quis, porém, comunicá-las por meio da Igreja visível, formada por homens, a fim de que por meio dela todos fossem, em certo modo, seus colaboradores na distribuição dos divinos frutos da Redenção. E assim como o Verbo de Deus, para remir os homens com suas dores e tormentos, quis servir-se da nossa natureza, assim, de modo semelhante, no decurso dos séculos se serve da Igreja para continuar perenemente a obra começada.
A Igreja é um “corpo”
Que a Igreja é um corpo, ensinam-nos muitos passos da sagrada Escritura: “Cristo, diz o Apóstolo, é a cabeça do corpo da Igreja” (Cl 1, 18). Afirma nosso predecessor de feliz memória Leão XIII, na encíclica “Satis cognitum”: “Pelo fato mesmo que é um corpo, a Igreja torna-se visível aos olhos”. Estão, pois, longe da verdade revelada os que imaginam a Igreja por forma, que não se pode tocar nem ver, mas é apenas, como dizem, uma coisa “pneumática” que une entre si com vínculo invisível muitas comunidades cristãs, embora separadas na fé.
E como o corpo humano nos aparece dotado de energias especiais com que provê à vida, saúde e crescimento seu e de todos os seus membros, assim o Salvador do gênero humano providenciou admiravelmente ao seu corpo místico enriquecendo-o de sacramentos, que com uma série ininterrupta de graças amparam o homem.
Não se deve, porém, julgar que já durante o tempo da peregrinação terrestre, o corpo da Igreja consta só de membros com perfeita saúde, ou só dos que de fato são por Deus predestinados à eterna felicidade. Por sua infinita misericórdia o Salvador não recusa lugar no seu corpo místico àqueles a quem o não recusou outrora no banquete (Mt 9, 11; Mc 2, 16; Lc 15,2). Nem todos os pecados, embora graves, são de sua natureza tais que separem o homem do corpo da Igreja como fazem os cismas, a heresia e a apostasia. Nem perdem de todo a vida sobrenatural os que pelo pecado perderam a caridade e a graça santificante e por isso se tornaram incapazes de mérito sobrenatural, mas conservam a fé e a esperança cristã, e iluminados pela luz celeste, são divinamente estimulados com íntimas inspirações e moções do Espírito Santo ao temor salutar, à oração e ao arrependimento das suas culpas.
Tenha-se, pois, sumo horror ao pecado que mancha os membros místicos do Redentor; mas o pobre pecador que não se tornou por sua teimosia indigno da comunhão dos fiéis, seja acolhido com maior amor, vendo-se nele com caridade operosa um membro enfermo de Jesus Cristo: Pois que é muito melhor, como nota o bispo de Hipona, “curá-los no corpo da Igreja, do que amputá-los como membros incuráveis”. “Enquanto o membro está ainda unido ao corpo não há por que desesperar da sua saúde; uma vez amputado, nem se pode curar, nem se pode sarar”.
A Igreja é o corpo “de Cristo”
Pedro, em força do primado, não é senão vigário de Cristo, e por isso a cabeça principal deste corpo é uma só: Cristo; o qual, sem deixar de governar a Igreja misteriosamente por si mesmo, rege-a também de modo visível por meio daquele que faz as suas vezes na terra.
Em erro perigoso estão, pois, aqueles que julgam poder unir-se a Cristo, cabeça da Igreja, sem aderirem fielmente ao seu vigário na terra. Suprimida a cabeça visível e rompidos os vínculos visíveis da unidade, obscurecem e deformam de tal maneira o corpo místico do Redentor, que não pode ser visto nem encontrado de quantos demandam o porto da eterna salvação.
Nosso Salvador, enquanto rege por si mesmo de modo invisível a Igreja, quer ser ajudado pelos membros deste corpo místico na realização da obra da redenção; não por indigência ou fraqueza da sua parte, mas ao contrário porque ele assim o dispôs para maior honra da sua esposa sem mácula. Com efeito, morrendo na cruz, deu à Igreja, sem nenhuma cooperação dela, o imenso tesouro da redenção; ao tratar-se, porém, de distribuir este tesouro, não só faz participante a sua incontaminada esposa desta obra de santificação, mas quer que em certo modo nasça da sua atividade. Tremendo mistério, e nunca suficientemente meditado: Que a salvação de muitos depende das orações e dos sacrifícios voluntários, feitos com esta intenção, pelos membros do corpo místico de Jesus Cristo, e da colaboração que pastores e féis, sobretudo os pais e mães de família, devem prestar ao divino Salvador.
Cristo é autor e operador de santidade. Já que nenhum ato salutar pode haver que dele não derive como fonte soberana: “Sem mim, diz ele, nada podeis fazer” (cf. Jo 15,5). Se nos sentimos movidos à dor e contrição dos pecados cometidos, se com temor e esperança filial nos convertemos a Deus, é sempre a sua graça que nos comove. A graça e a glória brotam da sua inexaurível plenitude. Sobretudo aos membros mais eminentes de seu corpo místico enriquece o Salvador continuamente com os dons de conselho, fortaleza, temor, piedade, para que todo o corpo cresça cada dia mais em santidade e perfeição. E quando com rito externo se ministram os sacramentos da Igreja, é ele que opera o efeito deles nas almas. É ele também que, nutrindo os fiéis com a própria carne e sangue, serena os movimentos desordenados das paixões; é ele que aumenta as graças e prepara a futura glória das almas e dos corpos. Todos esses tesouros da divina bondade reparte ele aos membros do seu corpo místico não só enquanto os obtém do Eterno Pai como vítima eucarística na terra e como vítima glorificada no céu, mostrando as suas chagas e apresentando as suas súplicas, mas também porque “segundo a medida do dom de Cristo” escolhe, determina, distribui a cada um as suas graças.
Cristo faz que a Igreja viva da sua vida sobrenatural, penetra com a sua divina virtude todo o corpo, e a cada um dos membros, segundo o lugar que ocupa no corpo, nutre-o e sustenta-o do mesmo modo que a videira sustenta e torna frutíferas as vides aderentes à cepa.
Depois que Cristo foi glorificado na cruz, o seu Espírito é comunicado à Igreja em copiosíssima efusão para que ela e cada um dos seus membros se pareçam cada vez mais com o Salvador. É o Espírito de Cristo que nos faz filhos adotivos de Deus, para que um dia “todos, contemplando a face descoberta, a glória do Senhor, nos transformemos na sua própria imagem cada vez mais resplandecente” (cf. 2Cor 3,18). É o Espírito de Cristo que, embora resida e opere divinamente em todos os membros, contudo também age nos inferiores por meio dos superiores; ele enfim que cada dia produz na Igreja com sua graça novos incrementos, mas não habita com a graça santificante nos membros totalmente cortados do corpo.
A Igreja é o corpo “místico” de Cristo
É verdade que os elementos jurídicos, em que a Igreja se sustenta e de que se compõe, nascem da divina constituição que Cristo lhe deu, e servem para conseguir o fim sobrenatural; contudo o que eleva a sociedade cristã a um grau absolutamente superior a toda a ordem natural, é o Espírito do Redentor, que, como fonte de todas as graças, dons e carismas, enche perpétua e intimamente a Igreja e nela opera.
A Igreja jurídica e a Igreja da caridade
De quanto até aqui expusemos é evidente que estão em grave erro os que arbitrariamente ungem uma Igreja como que escondida e invisível; e não menos aqueles que a consideram como simples instituição humana com determinadas leis e ritos externos, mas sem comunicação de vida sobrenatural. Ao contrário, assim como Cristo, cabeça e exemplar da Igreja, “não é todo se nele se considera só a natureza humana visível… ou só a natureza divina invisível…, mas é um de ambas e em ambas as naturezas…: assim o seu corpo místico”.
E se às vezes na Igreja se vê algo em que se manifesta a fraqueza humana, isso não deve atribuir-se a sua constituição jurídica, mas àquela lamentável inclinação do homem para o mal, que seu divino Fundador às vezes permite até nos membros mais altos do seu corpo místico para provar a virtude das ovelhas e dos pastores e para que em todos cresçam os méritos da fé cristã. Cristo, como acima dissemos, não quis excluir da sua Igreja os pecadores; portanto se alguns de seus membros estão espiritualmente enfermos, não é isso razão para diminuirmos nosso amor para com ela, mas antes para aumentarmos a nossa compaixão para com os seus membros.
UNIÃO DOS FIÉIS COM CRISTO
Virtudes teologais
Se os vínculos da fé e da esperança, que nos unem com o Redentor divino no seu corpo místico, são fortes e importantes, não são menos importantes e eficazes os laços da caridade. Se até naturalmente nada há mais excelente do que o amor, fonte da verdadeira amizade, que dizer daquele amor soberano, que o próprio Deus infunde nas nossas almas? “Deus é caridade, e quem permanece na caridade permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4,16). A caridade, como por força de uma lei estabelecida por Deus, faz com que ele desça a morar nas almas que o amam, dando-lhes amor por amor, segundo aquela sentença: “Se alguém me ama, também meu Pai o amará e viremos a ele e estabeleceremos nele a nossa morada” (Jo 14,23): Portanto a caridade une-nos com Cristo mais intimamente que qualquer outra virtude.
Mas a esse amor de Deus e de Cristo é preciso que corresponda a caridade para com o próximo. E realmente como podemos nós afirmar que amamos o Redentor divino, se odiamos aqueles que ele, para os fazer membros do seu corpo místico, remiu com seu precioso sangue? Antes devemos afirmar que tanto mais unidos estaremos com Deus, e com Cristo, quanto mais “formos membros uns dos outros” (Rm 12,25), solícitos uns pelos outros; e por outra parte, tanto mais viveremos entre nós unidos e estreitados pela caridade, quanto mais ardente for o amor que nos unir a Deus e à nossa divina cabeça.
A inabitação do Espírito Santo
Certamente não desconhecemos quão difícil de entender e de explicar é esta doutrina da nossa união com o divino Redentor, e especialmente da habitação do Espírito Santo nas almas, pelos véus do mistério que a recatam e tornam obscura à investigação da fraca inteligência humana. Mas sabemos também que da investigação bem-feita e persistente e do conflito e concurso das várias opiniões, se a investigação for orientada pelo amor da verdade e pela devida submissão à Igreja, brotam faíscas e se acendem luzes com que, mesmo neste gênero de ciências sagradas, se pode obter verdadeiro progresso. Uma coisa, porém, devem todos ter por certa e incontestável, se não querem desviar-se da verdadeira doutrina e do reto magistério da Igreja: rejeitar toda a explicação desta mística união que pretenda elevar os fiéis tanto acima da ordem criada, que cheguem a invadir a divina, a ponto de se atribuir em sentido próprio um só que seja dos atributos de Deus.
Note-se também que se trata de um mistério escondido, que neste exílio terrestre nunca se poderá completamente desvendar ou compreender nem explicar em linguagem humana. Diz-se que as Pessoas divinas habitam na criatura inteligente enquanto presentes nela de modo indecifrável, dela são atingidas por via de conhecimento e amor, de modo porém absolutamente íntimo e singular, que transcende a natureza humana.
EXORTAÇÃO PASTORAL
Erros relativos à vida ascética
Não faltam alguns que, por não considerarem bastante que S. Paulo falava nesta matéria só por metáforas, nem distinguirem, como é absolutamente necessário, os sentidos particulares e próprios dos termos corpo físico, moral, místico, introduzem uma falsa noção de unidade, afirmando que o Redentor e os membros da Igreja formam uma pessoa física, e ao passo que atribuem aos homens propriedades divinas, fazem Cristo Senhor nosso sujeito a erros e à humana inclinação para o mal. A tais falsidades opõem-se a fé católica e os sentimentos dos santos Padres.
Não menos contrário à verdade e perigoso é o erro daqueles que da misteriosa união de todos nós com Cristo pretendem deduzir um mal-entendido “quietismo”, que atribui toda a vida espiritual dos féis e todo o progresso na virtude unicamente à ação do Espírito Santo, excluindo ou menosprezando a correspondência e colaboração que devemos prestar-lhe. Ninguém pode negar que o divino Espírito de Cristo é a única fonte donde deriva toda a energia sobrenatural na Igreja e nos membros, pois que, como diz o salmista, “o Senhor concede a graça e a glória” (Sl83,12). Contudo o perseverar constantemente nas obras de santidade, o progredir fervorosamente na graça e na virtude, o esforçar-se generosamente por atingir o vértice da perfeição cristã, enfim o excitar, na medida do possível, os próximos a consegui-la, tudo isso não quer o celeste Espírito realizá-lo, se o homem não faz, dia a dia, com energia e zelo, o que está ao seu alcance. “Os benefícios divinos, diz santo Ambrósio, não se fazem aos que dormem, mas aos que velam”.
O mesmo sucede com a falsa opinião dos que pretendem que não se deve ter em conta a confissão frequente das faltas veniais; pois que mais importante é a confissão geral, que a esposa de Cristo, com seus filhos a ela unidos no Senhor, faz todos os dias, por meio dos sacerdotes antes de subirem ao altar de Deus. É verdade, e vós bem sabeis que há muitos modos e todos muito louváveis, de obter o perdão dessas faltas; mas para progredir mais rapidamente no caminho da virtude, recomendamos vivamente o pio uso, introduzido pela Igreja sob a inspiração do Espírito Santo, da confissão frequente, que aumenta o conhecimento próprio, desenvolve a humildade cristã, desarraiga os maus costumes, combate a negligência e tibieza espiritual, purifica a consciência, fortifica a vontade, presta-se à direção espiritual, e, por virtude do mesmo sacramento, aumenta a graça. Portanto os que menosprezam e fazem perder a estima da confissão frequente à juventude eclesiástica, saibam que fazem uma coisa contrária ao Espírito de Cristo e funestíssima ao corpo místico do Salvador.
Há ainda alguns que afirmam não terem as nossas orações verdadeira eficácia impetrativa e trabalham por espalhar a opinião de que a oração feita em particular pouco vale e que é a oração pública, feita em nome da Igreja, que tem verdadeiro valor, por partir do corpo místico de Jesus Cristo. Não é exato; o divino Redentor não só uniu estreitamente a si a Igreja como esposa queridíssima, senão também nela as almas de todos e cada um dos fiéis, com quem deseja ardentemente conversar na intimidade, sobretudo depois da comunhão.
Exortação a amar a Igreja
Até aqui meditando o mistério da nossa misteriosa união com Cristo, procuramos, como doutor da Igreja universal, iluminar as inteligências com a luz da verdade; agora julgamos conforme ao nosso múnus pastoral excitar os corações a amar o corpo místico, com ardente caridade, que não se fique em pensamentos e palavras, mas se traduza em obras. Realmente não há coisa mais gloriosa, mais honrosa, mais nobre, que fazer parte da Igreja, santa, católica, apostólica, romana, na qual nos tornamos membros de tão venerando corpo; nos governa uma tão excelsa cabeça; nos inunda o mesmo Espírito divino; a mesma doutrina, enfim, e o mesmo Pão dos Anjos nos alimenta neste exílio terreno, até que, finalmente, vamos gozar no céu da mesma bem-aventurança eterna.
Mas para que não nos deixemos enganar pelo anjo das trevas, transfigurado em anjo de luz (cf. 2Cor 11,14), seja esta a suprema lei do nosso amor: amar a esposa de Cristo tal como Cristo a quis e a adquiriu com seu sangue. Portanto não só devemos amar sinceramente os sacramentos, com que a Igreja, mãe extremosa nos sustenta, e as solenidades com que nos consola e alegra, os cantos sagrados e a liturgia, com que eleva as nossas almas às coisas do céu, mas também os sacramentais e os vários exercícios de piedade com que suavemente impregna de Espírito de Cristo e conforta as almas.
Ora para que esse amor sólido e perfeito more nas nossas almas e cresça de dia para dia, é preciso que nos acostumemos a ver na Igreja o próprio Cristo. Pois que é Cristo que vive na sua Igreja, por ela ensina, governa e santifica; é Cristo que de vários modos se manifesta nos vários membros da sua sociedade. Se todos os fiéis se esforçarem por viver realmente com esse vivo espírito de fé, não só prestarão a devida honra e reverência aos membros mais altos deste corpo místico, sobretudo aos que um dia têm de dar conta das nossas almas, mas amarão de modo particular aqueles que o Salvador amou com singularíssima ternura, quais são os enfermos, chagados, fracos, todos os que precisam de remédio natural ou sobrenatural; a infância, cuja inocência está hoje exposta a tantos perigos, e cuja alma se pode modelar como branda cera; os pobres nos quais com sua compaixão se deve reconhecer e socorrer a pessoa de Jesus Cristo.