LE PÈLERINAGE DE LOURDES

 


PAPA PIO XII


RESUMO DA ENCÍCLICA LE PÈLERINAGE DE LOURDES

SOBRE O CENTENÁRIO DAS APARIÇÕES DA SS. VIRGEM EM LOURDES


NOSSA SENHORA NA HISTÓRIA DA FRANÇA


Nossa Senhora das Graças e nossa Senhora de Lourdes


Quem é que não conhece hoje em dia a “medalha milagrosa”? Revelada, no próprio coração da capital francesa, a uma humilde filha de s. Vicente de Paulo que tivemos a alegria de inscrever no catálogo dos santos, essa medalha cunhada com a efígie de “Maria concebida sem pecado” espalhou por todos os lugares os seus prodígios espirituais e materiais. E, alguns anos mais tarde, de 11 de fevereiro a 16 de julho de 1858, à bem-aventurada virgem Maria aprazia, por um favor novo, manifestar-se na terra dos Pirineus a uma menina piedosa e pura, saída de uma família cristã, trabalhadora na sua pobreza. “Ela vem a Bernardete, dizíamos nós outrora, fá-la a sua confidente, a colaboradora, o instrumento da sua ternura maternal e da misericordiosa onipotência de seu Filho, para restaurar o mundo em Cristo por uma nova e incomparável efusão da redenção”.


Lourdes e a Santa Sé


O cinquentenário da definição dogmática da imaculada conceição da santíssima Virgem ofereceu a s. Pio X a oportunidade de atestar num documento solene a ligação histórica entre esse ato do magistério e a aparição de Lourdes: “Apenas Pio IX definira de fé católica que desde a origem Maria foi isenta de pecado, a própria Virgem começava a operar maravilhas em Lourdes”.


AS LIÇÕES ESPIRITUAIS DAS APARIÇÕES


Essas lições, eco fiel da mensagem evangélica, fazem ressaltar de maneira impressionante o contraste que opõe os juízos de Deus à vã sabedoria deste mundo. Numa sociedade que não tem lá muita consciência dos males que a corroem, numa sociedade que vela as suas misérias e as suas injustiças sob aparências prósperas, brilhantes e descuidosas, a Virgem imaculada, por quem o pecado jamais roçara, manifesta-se a uma menina inocente. Com compaixão maternal percorre com o olhar este mundo redimido pelo sangue de seu Filho, onde, infelizmente, o pecado faz cada dia tantas devastações, e por três vezes lança o seu apelo premente: “Penitência, penitência, penitência!” Gestos expressivos são, mesmo, pedidos: “Ide beijar a terra em penitência pelos pecadores”. E ao gesto há que juntar a súplica: “Rogareis a Deus pelos pecadores”. Tal como no tempo de João Batista, tal como no início do ministério de Jesus, a mesma imposição, forte e rigorosa, dita aos homens a trilha da volta a Deus: “Arrependei-vos” (Mt3, 2; 4, 17). E quem ousaria dizer que esse apelo à conversão do coração perdeu, nos nossos dias, a sua atualidade?


Seguir pela trilha que nossa Senhora nos traçou


Em parte alguma, talvez, tanto quanto em Lourdes, a gente se sente levado ao mesmo tempo à oração, ao esquecimento de si e à caridade. A vermos a dedicação dos padioleiros e a paz serena dos doentes; a verificarmos a fraternidade que congrega numa mesma invocação fiéis de todas as origens; a observarmos a espontaneidade do auxílio mútuo e o fervor, sem afetação, dos peregrinos ajoelhados diante da gruta, os melhores são empolgados pelo atrativo de uma vida mais totalmente dada ao serviço de Deus e de seus irmãos; os menos fervorosos tomam consciência da sua tibieza e reencontram o caminho da oração; não raras vezes os pecadores mais empedernidos e os próprios incrédulos são tocados pela graça, ou, ao menos, se são leais, não ficam insensíveis ao testemunho daquela “multidão de crentes que têm um só coração e uma só alma” (At 4, 32).

Geralmente, entretanto, essa experiência de alguns breves dias de peregrinação não basta, por si só, para gravar em caracteres indeléveis o apelo de Maria a uma autêntica conversão espiritual. Por isso exortamos os pastores das dioceses e todos os sacerdotes a rivalizarem em zelo para que as peregrinações do centenário se beneficiem de uma preparação, de uma realização e sobretudo de amanhãs, tanto quanto possível propícios, a uma ação profunda e duradoura da graça. O retorno a uma prática assídua dos sacramentos, o respeito da moral cristã em toda a vida, o ingresso, enfim, nas fileiras da ação católica e das diversas obras recomendadas pela Igreja: só nestas condições o importante movimento de multidões previsto em Lourdes para o ano de 1958 dará, segundo a própria expectativa da Virgem imaculada, os frutos de salvação tão necessários à humanidade presente.

A uma sociedade que, na sua vida pública, não raras vezes contesta os direitos supremos de Deus, que quereria ganhar o mundo inteiro ao preço de sua alma, e que assim correria à sua perdição, a Virgem maternal lançou como que um brado de alarme. Atentos ao seu apelo, ousem os sacerdotes a pregar a todos, sem temor, as grandes verdades da salvação. Com efeito, não há renovação durável senão fundada nos princípios inquebráveis da fé, e pertence aos sacerdotes formar a consciência do povo cristão. Assim como, compassiva para com as nossas misérias, mas clarividente sobre as nossas verdadeiras necessidades, a Imaculada vem aos homens para lhes lembrar os cuidados essenciais e austeros da conversão religiosa, devem os ministros de Deus, com sobrenatural segurança, traçar às almas a estrada estreita que conduz à vida.

A Virgem imaculada, que conhece os encaminhamentos secretos da graça nas almas e o trabalho silencioso desse fermento sobrenatural do mundo, sabe de que valor são aos olhos de Deus os vossos sofrimentos unidos aos do Salvador. Podem eles grandemente concorrer para essa renovação cristã da sociedade que de Deus imploramos pela poderosa intercessão de sua Mãe. Que, a rogo dos doentes, dos humildes, de todos os peregrinos de Lourdes, Maria volva igualmente o seu olhar materno para aqueles que ainda permanecem fora do redil único da Igreja, para os congregar na unidade. Lance o seu olhar sobre aqueles que buscam a verdade e dela têm sede, para os conduzir à fonte das águas vivas.