PAPA PIO XII
RESUMO DA ENCÍCLICA INGRUENTIUM MALORUM
SOBRE A RECITAÇÃO DO ROSÁRIO ESPECIALMENTE NO MÊS DE OUTUBRO
Os males do nosso tempo
Bem sabeis como são calamitosos os tempos que atravessamos. A concórdia fraterna das nações, há tanto tempo despedaçada, não a vemos ainda restabelecida em toda parte; pelo contrário, a cada passo, os ânimos se agitam mais com ódios e rivalidades, e sobre os povos pairam ainda ameaças de guerras cruentas.
Devoção ao Rosário
Com alegre expectativa e reavivada esperança vemos aproximar-se mais um mês de outubro, no qual os fiéis costumam acorrer com maior frequência às igrejas para invocarem Maria por meio da devoção do santíssimo Rosário. Essa devoção desejamos se faça este ano com o maior fervor de alma, como exigido pelas necessidades do mundo. É que bem sabemos quão grande eficácia e força tem a reza do terço para alcançar o materno auxílio da Virgem santíssima.
E realmente, com a meditação frequente dos mistérios sagrados, a alma, insensivelmente, vai pouco a pouco extraindo e embebendo-se da força que eles encerram, inflamando-se maravilhosamente na esperança dos bens imortais, levada forte e suavemente a seguir os vestígios do próprio Cristo e de sua Mãe santíssima. E a recitação tão repetida das mesmas fórmulas, longe de ter algo de estéril ou de enfadonho, possui, pelo contrário, admirável virtude para incutir, nos que rezam, a confiança de serem ouvidos, e para exercer, sobre o maternal coração de Maria, uma espécie de suave violência!
O terço em família
Mas é sobretudo dentro das paredes do lar que temos o desejo de ver reflorir por toda a parte o hábito assíduo da reza do terço, e seja religiosamente guardado e revigorizado com novo fervor. É que será vão o esforço de reparar a situação decadente da sociedade civil se a família, princípio e base de toda a sociedade humana, não se ajustar diligentemente à lei do evangelho. E nós afirmamos que, para desempenho cabal desse árduo dever, é sobremaneira conveniente o costume da reza do terço em família. Quão suave e profundamente agradável a Deus é o espetáculo do lar cristão que, ao cair de cada noite, ressoa com as harmonias dos reiterados louvores da augusta Rainha do Céu! Então essa prece comum reúne pais e filhos, de volta do trabalho do dia, em admirável união de almas, aos pés da imagem de Maria; depois une piedosamente com os ausentes, com os já falecidos; a todos, enfim, com suavíssimo vínculo de amor, liga mais estreitamente a virgem Maria, que, como mãe amantíssima, rodeada da coroa dos seus filhos, ali estará presente a infundir com profusão os dons da união e da paz doméstica. Então o lar da família cristã, ajustado ao modelo da família de Nazaré, tornar-se-á mansão de santidade na terra e quase templo sagrado, em que a reza do Rosário de Maria não será apenas particular forma e modo de oração a subir cada dia ao céu em cheiro de suavidade, mas eficacíssima escola de disciplina e virtude cristã. Efetivamente, os admiráveis mistérios da redenção, propostos à contemplação, hão de fazer que os mais idosos, tendo ante os olhos os exemplos luminosos de Jesus e de Maria, se habituem a passá-los, dia a dia, à prática da vida, deles possam retirar conforto nas angústias e adversidades e, por eles movidos, frutuosamente se lembrem dos tesouros dos bens celestes “aos quais não chega o ladrão, nem rói a traça” (Lc12, 33). E farão que nas mentes das crianças se vão penetrando as principais verdades da fé cristã, de tal maneira que floresça quase espontaneamente nos seus corações inocentes o amor ao Redentor benigníssimo, ao mesmo tempo que logo desde a tenra idade, sob a luz do exemplo dos pais que reverentemente ajoelham ante a majestade de Deus, aprendem a conhecer o valor da oração feita em comum.
O Rosário, força da Igreja e aurora de melhores dias
De novo, pois, e categoricamente, não hesitamos em afirmar em público que depositamos grande esperança no Rosário de nossa Senhora como remédio dos males do nosso tempo. Porque não é pela força, nem pelas armas, nem pelo poder humano, mas sim, pelo auxílio alcançado por meio dessa devoção, que a Igreja, munida desta espécie de funda de Davi, consegue corajosa afrontar o inimigo infernal, ao qual bem pode dirigir as palavras do pastorzinho adolescente: “Tu vens contra mim de espada, lança e escudo, e eu vou contra ti em nome do Deus dos exércitos…; e saberá toda esta multidão que não é com espada nem com lança que o Senhor salva” (1 Rs 17, 44.49).