RESUMO DA EXORTAÇÃO APOSTÓLICA CATECHESI TRADENDAE
SOBRE A CATEQUESE DO NOSSO TEMPO
INTRODUÇÃO
A catequese foi sempre considerada pela Igreja como uma das suas tarefas primordiais, porque Cristo ressuscitado, antes de voltar para o Pai, deu aos Apóstolos uma última ordem: fazer discípulos de todas as nações e ensinar-lhes a observar tudo aquilo que lhes tinha mandado. Deste modo lhes confiava Cristo a missão e o poder de anunciar aos homens aquilo que eles próprios tinham ouvido do Verbo da Vida, visto com os seus olhos, contemplado e tocado com as suas mãos. Ao mesmo tempo, confiava-lhes ainda a missão e o poder de explicar com autoridade aquilo que Ele lhes tinha ensinado, as suas palavras e os seus atos, os seus sinais e os seus mandamentos. E dava-lhes o Espírito Santo, para realizar tal missão.
Bem depressa se começou a chamar catequese ao conjunto dos esforços empenhado na Igreja para fazer discípulos, para ajudar os homens a acreditar que Jesus é o Filho de Deus, a fim de que, mediante a fé, tenham a vida em Seu nome, para os educar e instruir quanto a esta vida e assim edificar o Corpo de Cristo. A Igreja nunca cessou de consagrar a tudo isto as suas energias.
NÓS TEMOS UM ÚNICO MESTRE, JESUS CRISTO
Deseja-se acentuar, antes de mais nada, que no centro da catequese encontramos essencialmente uma Pessoa: a Pessoa de Jesus de Nazaré, “Filho único do Pai, cheio de graça e de verdade”, que sofreu e morreu por nós, e que agora, ressuscitado, vive conosco para sempre este mesmo Jesus que é “o Caminho, a Verdade e a Vida”, e a vida cristã consiste em seguir a Cristo, “sequela Christi”.
O objeto essencial e primordial da catequese é “o Mistério de Cristo”. Catequizar é, de certa maneira, levar alguém a investigar este Mistério em todas as suas dimensões: “expor à luz, diante de todos, qual seja a disposição divina, o Mistério… Compreender, com todos os santos, qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade… conhecer a caridade de Cristo, que ultrapassa qualquer conhecimento… (e entrar em) toda a plenitude de Deus”. Quer dizer: é procurar desvendar na Pessoa de Cristo todo o plano eterno de Deus que nela se realiza. E procurar compreender o significado dos gestos e das palavras de Cristo e dos sinais por Ele realizados, pois eles ocultam e revelam ao mesmo tempo o seu Mistério. Neste sentido, a finalidade definitiva da catequese é a de fazer que alguém se ponha, não apenas em contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo: somente Ele pode levar ao amor do Pai no Espírito e fazer-nos participar na vida da Santíssima Trindade.
Toda a vida de Cristo foi um ensinar contínuo: os seus silêncios, os seus milagres, os seus gestos, a sua oração, o seu amor pelo homem, a sua predileção pelos pequeninos e pelos pobres, a aceitação do sacrifício total na cruz pela redenção do mundo e a sua ressurreição, são o atuar-se da sua palavra e o realizar-se da sua revelação. De modo que, para os cristãos, o Crucifixo é uma das imagens mais sublimes e mais populares do Jesus que ensina.
É somente em profunda comunhão com Ele que os catequistas encontrarão luz e força para uma desejável renovação autêntica da catequese.
A CATEQUESE NA ATIVIDADE PASTORAL E MISSIONÁRIA DA IGREJA
Globalmente, pode-se partir da noção de que a catequese é uma educação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos, a qual compreende especialmente um ensino da doutrina cristã, dado em geral de maneira orgânica e sistemática, com o fim de os iniciar na plenitude da vida cristã.
Antes de mais nada convém recordar que entre a catequese e a evangelização não existe separação nem oposição, como também não há identificação pura e simples, mas existem sim relações íntimas de integração e de complementaridade recíproca.
A especificidade da catequese, distinta do primeiro anúncio do Evangelho que suscita conversão, visa o duplo objetivo de fazer amadurecer a fé inicial e de educar o verdadeiro discípulo de Cristo, mediante um conhecimento mais aprofundado e sistemático da Pessoa e da mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo.
A “catequese” muitas vezes há de ter a preocupação, não só de alimentar e esclarecer a fé, mas também de a avivar incessantemente com a ajuda da graça, de lhe abrir os corações, de converter e preparar aqueles que ainda estão no limiar da fé para uma adesão global a Jesus Cristo. Tal cuidado ditará, pelo menos em parte, o tom, a linguagem e o método da catequese.
A catequese, portanto, há de tender a desenvolver a inteligência do mistério de Cristo à luz da Palavra, a fim de que o homem todo seja por ele impregnado. Deste modo, transformado pela ação da graça em nova criatura, o cristão põe-se a seguir Cristo e, na Igreja, aprende cada vez melhor a pensar como Ele, a julgar como Ele, a agir em conformidade com os seus mandamentos e a esperar como Ele nos exorta a esperar.
Mais precisamente, a finalidade da catequese, no conjunto da evangelização, é a de construir a fase de ensino e de ajuda à maturação do cristão que, depois de ter aceitado pela fé a Pessoa de Jesus Cristo como único Senhor e após ter Lhe dado uma adesão global, por uma sincera conversão do coração, se esforça por melhor conhecer o mesmo Jesus Cristo, ao qual se entregou: conhecer o seu “mistério”, o Reino de Deus que Ele anunciou, as exigências e promessas contidas na sua mensagem evangélica e os caminhos que Ele traçou para todos aqueles que O querem seguir.
A catequese autêntica é sempre iniciação ordenada e sistemática à revelação que Deus fez de Si mesmo ao homem, em Jesus Cristo. Esta revelação está conservada na memória profunda da Igreja e nas Sagradas Escrituras, e é constantemente comunicada, por uma tradição viva e ativa, de uma geração a outra.
Graças, pois, à catequese, é que o “kerigma” evangélico — aquele primeiro anúncio cheio de ardor que a dada altura transforma uma pessoa e a leva à decisão de se entregar a Jesus Cristo pela fé — será pouco a pouco aprofundado, desenvolvido nas suas afirmações implícitas, explicado mediante explanação que apele também à razão e oriente à prática cristã na Igreja e no mundo. As verdades que se aprofundam na catequese são as mesmas que tocaram o coração do homem, quando este as ouviu pela primeira vez. O fato de as conhecer melhor, longe de as embotar ou de as fazer ressequir, torna-as ainda mais estimulantes e decisivas para a vida.
TODOS PRECISAM DE SER CATEQUIZADOS
Momento muitas vezes decisivo é aquele em que as criancinhas recebem dos pais e do meio ambiente familiar os primeiros elementos da catequese. Não serão talvez mais do que uma simples revelação do Pai celeste, bom e providente, para o qual as criancinhas hão de aprender logo a voltar o coração. Brevíssimas orações, que elas hão de aprender a balbuciar, constituirão o início de um diálogo amoroso com esse Deus escondido cuja Palavra vão começar em breve a ouvir. Nunca é demais insistir com os pais cristãos para que façam essa iniciação precoce das crianças. É por ela que as suas faculdades hão de ser integradas numa revelação vital com Deus. Tarefa fundamental, exige grande amor e profundo respeito para com as crianças, as quais têm direito a uma apresentação simples e verdadeira da fé cristã.
Com a idade da juventude chega o momento das primeiras grandes decisões. A catequese assume então uma importância considerável. É o momento em que o Evangelho poderá ser apresentado, compreendido e acolhido como algo capaz de dar sentido à vida, e por isso de inspirar atitudes de outra forma inexplicáveis, como por exemplo: a renúncia, o desapego, a mansidão, a justiça, a fidelidade aos compromissos, a reconciliação, o sentido do Absoluto e do invisível, etc., outros tantos traços que hão de permitir identificar determinado jovem entre os seus companheiros como discípulo de Cristo.
A catequese há de preparar deste modo os grandes compromissos cristãos da vida adulta. No que diz respeito, por exemplo, às vocações para a vida sacerdotal e religiosa, há a certeza de que muitas delas nasceram no decurso de uma catequese bem-feita durante a infância e durante a adolescência.
Desde a primeira infância até ao limiar da maturidade, a catequese torna-se pois uma escola permanente de fé e segue as grandes linhas da vida, à maneira de um farol que ilumina o caminho da criança, do adolescente e do jovem.
Os adultos, em qualquer idade que se encontrem e as próprias pessoas idosas — que dada a sua experiência e os seus problemas, merecem atenção particular — são tão destinatários da catequese, como as crianças, os adolescentes e os jovens. E haveria que falar ainda dos migrantes, das pessoas “marginalizadas” pela evolução moderna e daquelas que vivem nos bairros de grandes metrópoles, muitas vezes desprovidos de igreja, de locais e de estruturas apropriadas... Em relação a todos estes, não se podem deixar de formular votos por que se multipliquem as iniciativas destinadas à sua formação cristã, com meios apropriados (sistemas audiovisuais, publicações, encontros, conferências, etc.), de tal maneira que os adultos possam ou suprir uma catequese que ficou insuficiente ou deficiente, ou completar harmoniosamente, a nível superior, aquela que receberam na infância, ou mesmo enriquecer-se neste aspecto, de molde a poderem ajudar mais seriamente os outros.
É importante também que a catequese das crianças e dos jovens, a catequese permanente e a catequese dos adultos não sejam domínios estanques e sem comunicação. E importa mais ainda que entre elas não haja ruptura. Muito pelo contrário, é necessário favorecer a sua perfeita complementaridade: os adultos têm muito que dar aos jovens e às crianças em matéria de catequese, mas também eles podem receber muito pela catequese, em ordem ao incremento da sua própria vida cristã.
Tem que se repetir, uma vez mais: ninguém na Igreja de Jesus Cristo deveria sentir-se dispensado de receber catequese. Tal imperativo abrange mesmo o caso dos jovens seminaristas e dos jovens religiosos, bem como de todos aqueles que são chamados a desempenhar o múnus de pastores e de catequistas: desempenhá-lo-ão tanto melhor quanto mais souberem aprender com humildade na escola da Igreja, que é não só a grande catequista mas também a grande catequizada.
COMO DAR A CATEQUESE
O primeiro problema da ordem geral que se apresenta refere-se ao risco e à tentação de misturar indevidamente com o ensino catequético perspectivas ideológicas, claras ou disfarçadas, sobretudo de natureza político-social, ou então opções políticas pessoais. Quando tais perspectivas prevalecem sobre a mensagem central a ser transmitida, até ao ponto de a obscurecerem e fazerem com que se torne secundária, ou mesmo de a utilizarem até para os seus próprios fins, a catequese passa a ficar profundamente desnaturada até as raízes.
Os catequetas autênticos sabem bem que a catequese se tem de “encarnar” nas diferentes culturas e nos diversos meios: basta pensar em tanta diversidade de povos, na novidade dos jovens do nosso tempo e nas circunstâncias tão variadas em que se encontram os homens de hoje; apesar de tudo, nenhum desses catequetas aceita que a catequese se empobreça, por renúncia ou atenuação da luz da sua mensagem e por adaptações, mesmo de linguagem, que porventura comprometessem o “bom depósito” da fé, ou ainda por consentimentos em matéria de fé ou moral; todos estão persuadidos de que a verdadeira catequese há de acabar por enriquecer essas culturas, ajudando-as a superar os aspectos deficientes ou mesmo desumanos que nelas existam, comunicando aos seus puros valores a plenitude de Cristo.
A pluralidade de métodos na catequese atual pode ser sinal de vitalidade e de talento inventivo. Em qualquer hipótese, importa que o método escolhido se atenha acima de tudo a uma lei fundamental para toda a vida da Igreja: a lei da fidelidade a Deus e da fidelidade ao homem, numa única atitude de amor.
A ALEGRIA DA FÉ NUM MUNDO DIFÍCIL
Falava-se muito, há alguns anos, de mundo secularizado e de era pós-cristã. A moda, como sempre, passa… mas permanece uma realidade profunda. Os cristãos de hoje têm de ser formados para viverem num mundo que em vasta escala ignora a Deus, ou que em matéria religiosa, em vez de diálogo exigente e fraterno, estimulante para todos, se atola com muita frequência num indiferentismo nivelador, quando não permanece mesmo numa atitude desprezante de “suspeita”, em nome dos seus progressos em matéria de “explicações” científicas. Para conseguir “aguentar” neste mundo assim, para oferecer a todos a possibilidade de um “diálogo da salvação” em que cada um se sinta respeitado na sua dignidade verdadeiramente fundamental, que é a de um ser que busca Deus, precisamos de uma catequese que ensine jovens e adultos das nossas comunidades a permanecerem lúcidos e coerentes na sua fé e a afirmarem serenamente a sua identidade cristã e católica, a “verem o invisível” e a aderirem de tal modo ao absoluto de Deus, que possam dele dar testemunho no seio de uma civilização materialista que o nega.
É, pois, uma das finalidades da catequese proporcionar aos jovens catecúmenos as certezas que temos, simples mas sólidas; são elas que os hão de ajudar a procurar mais e melhor o conhecimento do Senhor.
O dom mais precioso que a Igreja pode oferecer ao mundo atual, desorientado e inquieto, é o de nele formar cristãos bem firmados no essencial e humildemente felizes na sua fé. A catequese há de ensinar-lhes isto e ela própria daí tirará proveito: “O homem que quiser compreender-se a si próprio profundamente — não apenas segundo critérios e medidas imediatas, parciais, por vezes superficiais e só aparentes — deve aproximar-se de Cristo, com toda a sua inquietude e incerteza, sua fraqueza e pecaminosidade”.
CONCLUSÃO
A catequese, que é crescimento na fé e amadurecimento da vida cristã em ordem à sua plenitude é, por consequência, obra do Espírito Santo, obra que só Ele pode suscitar e manter na Igreja.
A convicção de que a Igreja, ao realizar a sua missão de catequizar deve estar bem consciente de agir como instrumento vivo e dócil do Espírito Santo. Por isso, invocar incessantemente esse Espírito, estar em comunhão com Ele, esforçar-se por conhecer as suas autênticas inspirações, tem de ser a atitude da Igreja que ensina, bem como de todo e qualquer catequista.
E que a Virgem Santíssima do Pentecostes nos alcance também Ela, pela sua intercessão, tudo isto! Por vocação singular, viu o seu Filho Jesus crescer “em sabedoria, em estatura e em graça”. Sobre os seus joelhos e ao ouvi-lo durante a vida oculta de Nazaré, esse Filho, o Unigênito do Pai “pleno de graça e de verdade”, foi por um lado formado por Ela no conhecimento humano das Escrituras e da história do desígnio de Deus sobre o seu Povo, assim como na adoração do Pai. Por outro lado, Ela foi a primeira dos seus discípulos: primeira quanto ao tempo, porque já quando se dá o encontro no Templo Ela recebe do seu Filho adolescente lições que conserva no seu coração; e a primeira, sobretudo, em grau de profundidade porque ninguém foi assim “ensinado por Deus”.
Que a presença do Espírito Santo, pois, pela intercessão de Maria, possa alcançar à Igreja um impulso sem precedentes na atividade catequética que para ela é essencial! A Igreja desempenhar-se-á então de modo eficaz, neste tempo de graça, da missão intransferível e universal recebida do seu Senhor: “Ide e ensinai todas as gentes”.