MAXIMUM ILLUD

 

PAPA BENTO XV

RESUMO DA CARTA APOSTÓLICA MAXIMUM ILLUD

SOBRE A ATIVIDADE DESENVOLVIDA PELOS MISSIONÁRIOS NO MUNDO


A Igreja de Deus, fiel ao mandato divino, nunca deixou, através dos tempos, de enviar a todo o mundo arautos e ministros da palavra divina que anunciassem a salvação eterna alcançada por Cristo para o gênero humano. Mesmo durante os três primeiros séculos do cristianismo, quando a fúria das perseguições, desencadeadas pelo inimigo, inundava de sangue a Igreja nascente, a voz do Evangelho foi proclamada em todo o Império Romano.

Quando posteriormente foi concedida a paz e a liberdade à Igreja, foram ainda maiores os progressos no apostolado alcançados em todo o mundo, sobretudo pela mão de pessoas que se distinguiam por zelo e santidade.

Depois da descoberta da América, uma multidão de apóstolos consagrou-se à proteção dos indígenas contra a tirania humana, com a finalidade de os libertar da dura escravidão do demônio.

Por fim a Austrália, o último continente a ser descoberto, e ao mesmo tempo os territórios da África central receberam anunciadores da fé cristã; e no imenso Oceano Pacífico todas as ilhas, mesmo as mais isoladas, foram alcançadas pelo zelo dos nossos Missionários.

Antes de mais dirigimo-nos àqueles que, na qualidade de Bispos, Vigários ou Prefeitos Apostólicos, presidem às Missões. Deles depende diretamente a propagação da fé e é neles que a Igreja coloca a esperança para uma maior expansão. Não ignoramos quão vivo esteja neles o espírito de apostolado. São conhecidas as grandes dificuldades que tiveram de superar e as árduas provações que sofreram, sobretudo nos últimos anos, não só para não perder as posições adquiridas, mas também para dilatar ainda mais o reino de Deus.

O destino de uma Missão depende, pode dizer-se, do modo como é dirigida; por isso, pode ser danosa a não capacidade de quem a governa. Na verdade, quem se consagra ao apostolado das Missões, abandona pátria, família e parentes; aventura-se frequentemente numa viagem grande e perigosa, disposto a suportar qualquer sofrimento a fim de ganhar mais pessoas para Cristo. Por isso, se tem um superior que o assiste nas várias circunstâncias com sincera caridade, não há dúvida que a obra será frutuosa; caso contrário, abatido pouco a pouco pelas contrariedades, provavelmente terminará abandonando-se ao desânimo e à inércia.

Agora dirigimo-nos a vós, queridos filhos que cultivais a vinha do Senhor e de quem depende mais diretamente a propagação da verdade cristã e a salvação de tantas pessoas. Antes de mais nada, é necessário que tenhais uma grande estima pela vossa sublime vocação. Tende em conta que a tarefa que vos está confiada é absolutamente divina e está acima dos pequenos interesses humanos, porque levais a luz a quem jaz nas sombras da morte e abris as portas do céu a quem estava a caminhar para o abismo. Considerando que foi dito a cada um de vós pelo Senhor “esquece o teu povo e a casa do teu pai”, recordai-vos que não deveis difundir o reino dos homens, mas o de Cristo; não vos compete aumentar o número de cidadãos para a pátria terrena, mas para a pátria celeste. Disto se conclui que seria deplorável se houvesse Missionários que, esquecidos da própria dignidade, pensassem mais na sua pátria terrena que na celeste; e estivessem preocupados, acima de tudo, com a dilatação do poder e da glória daquela.

Antes de iniciar o seu apostolado, o Missionário deve ter uma cuidadosa preparação. Poder-se-ia pensar que não há necessidade de tanta ciência para quem vai pregar Cristo a povos não civilizados. Embora seja verdade que, para converter e salvar as pessoas, é muito mais eficaz a virtude do que o saber, todavia se o missionário não se muniu primeiro duma certa bagagem de doutrina, dar-se-á conta depois que lhe falta consistência para ser bem-sucedido no seu ministério. É frequente o Missionário encontrar-se sem livros e sem a possibilidade de consultar qualquer pessoa mais experiente, quando precisa de responder a objeções contra a fé e resolver questões e problemas difíceis. Quanto mais instruído for, maior será a estima de que gozará entre o povo; sobretudo se se encontrar no meio de um povo que aprecia o estudo e o saber, não seria conveniente que os pregadores da verdade fossem inferiores aos ministros do erro. Por isso, enquanto os seminaristas – chamados por Deus – são preparados convenientemente para as Missões, devem ser instruídos em todas as disciplinas (sagradas ou profanas) que interessem ao Missionário. E isto deve ser feito com todo o cuidado nas sedes acadêmicas do Colégio Pontifício Propaganda Fide; ordenamos também que, a partir de agora, seja disponibilizado lá um ensinamento especial sobre todos os assuntos atinentes às Missões.

Para aqueles que se preparam para o apostolado, é indispensável acima de tudo – como dissemos – a santidade de vida. É necessário que seja um homem de Deus aquele que prega Deus; e odeie o pecado aquele tal ódio ensina. Especialmente junto dos pagãos, que são guiados mais pelo instinto que pela razão, é muito mais proveitosa a pregação do exemplo que a da palavra. Ainda que o Missionário seja dotado dos melhores dotes de mente e coração, mesmo que seja cheio de doutrina e cultura, se estas qualidades não aparecerem associadas a uma vida santa, bem pouca ou mesmo nenhuma eficácia terão para a salvação dos povos; antes, na maior parte dos casos, causarão dano ao próprio e aos outros.

Por isso, o Missionário seja exemplarmente humilde, obediente e casto; seja especialmente piedoso, dedicado à oração e viva em contínua união com Deus, intercedendo junto dele pela causa das almas. Quanto mais unido estiver a Deus, tanto mais abundantemente lhe será concedida a graça do Senhor. Escute a exortação do Apóstolo: “como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos, pois, de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência”. Afastados todos os obstáculos com a ajuda destas virtudes, é fácil e espontâneo o acesso da verdade aos corações dos homens; não existe vontade tão obstinada que lhe possa resistir. Por isso, o Missionário que, à imitação do Senhor Jesus, arda de caridade, reconhecendo como filhos de Deus também os mais afastados, redimidos pelo mesmo sangue, não se irrita pela sua rudeza, não desanima perante a perversidade dos seus costumes, não os despreza nem desdenha, não os trata com aspereza, mas procura atraí-los com toda a ternura da bondade cristã, para conduzi-los um dia ao abraço de Cristo, o Bom Pastor.

Com estas convicções e propósitos e seguindo o exemplo de Cristo e dos Apóstolos, o Missionário prepara-se confiadamente para exercer o seu mandato: mas recorde-se de colocar toda a sua confiança em Deus. Como dissemos, a propagação da sabedoria cristã é, toda ela, uma intervenção divina, porque só Deus sabe entrar no íntimo de cada um, iluminar as mentes com o esplendor da verdade, acender nos corações a chama da virtude e fornecer ao homem as energias necessárias para que possa abraçar e seguir aquilo que ele reconheceu como verdadeiro e bom. Se o Senhor não ajudar o Ministro nas suas fadigas, todo o seu esforço será em vão. Apesar de tudo isto, continue animadamente no seu trabalho, confiando na ajuda da graça divina, que nunca é negada a quem a invoca.

Agora dirigimo-nos a todos aqueles que, por grande misericórdia de Deus, estão já na posse da verdadeira fé e dela colhem imensos benefícios. Antes de mais nada, devem ter em consideração a obrigação que lhes incumbe de ajudar as Missões. Na verdade, Deus “impôs a cada um deveres para com o próximo”, e este dever é tanto mais impelente quanto maior for a necessidade em que vive o próximo. Ora quem terá mais necessidade da nossa ajuda fraterna do que aquele que desconhece Deus, estando à mercê das mais desenfreadas paixões e sob a duríssima tirania do demônio? Por isso, todos aqueles que contribuem – segundo as próprias forças – para os iluminar, sobretudo ajudando a obra dos Missionários, prestam a Deus o testemunho mais agradável da sua gratidão por lhes ter dado o dom da fé.

As ajudas que se podem dar às Missões e que os Missionários não cessam de pedir, são de três espécies. A primeira, que está ao alcance de todos, é confiá-los ao Senhor através da oração. Já mais de uma vez observamos que a obra dos Missionários será estéril e vã, se não for fecundada pela graça divina; como dizia São Paulo, falando de si mesmo: “eu plantei, Apolo regou, mas foi Deus quem deu o crescimento”. Para conseguir esta graça, só há um modo: a perseverança na oração humilde. Como disse o Senhor, “se pedir qualquer coisa, hão de obtê-la de meu Pai”. Não restam dúvidas sobre o fato de uma tal oração ser atendida, tratando-se duma causa tão nobre e querida aos olhos de Deus. Por isso, assim como Moisés no alto do monte, levantando as mãos ao céu, suplicava a ajuda divina a favor dos israelitas que combatiam contra os amalecitas, assim também os cristãos devem, rezando, ajudar os pregadores do Evangelho, enquanto estes trabalham na vinha do Senhor. Com esta finalidade, foi instituído o “Apostolado da Oração”; recomendamo-lo vivamente a todos os fiéis, esperando que ninguém se recuse a fazer parte dele, mas todos queiram tomar parte, no mínimo com o coração, nas canseiras apostólicas.

Em segundo lugar, é necessário prover à escassez de missionários, que já se fazia sentir anteriormente, mas a sua necessidade é ainda maior depois da guerra. Várias partes da vinha do Senhor precisam de trabalhadores. Apelamos à vossa solicitude certo de que fareis o necessário para estimular no clero e nos alunos do Seminário diocesano a vocação para as Missões. Não vos deixeis enganar por alguma aparência de bem ou por considerações humanas, temendo que faça falta na vossa diocese o que derdes às Missões. No lugar de um Missionário que deixareis partir, Deus suscitará mais sacerdotes que serão muito úteis à vossa diocese.

Para sustentar as Missões, são necessários também muitos meios materiais, especialmente porque cresceram imenso as necessidades depois da guerra que devastou e destruiu escolas, lares, hospitais, dispensários e outras instituições de caridade. Apelamos veementemente a todas as pessoas de boa vontade para que, nos limites das suas possibilidades, queiram largamente ajudar. Desejamos que, de modo particular, sejam ajudadas – pela generosidade dos católicos – as obras que foram propositadamente instituídas em benefício das Missões.

Que a Mãe de Deus, Rainha dos Apóstolos nos acompanhe e obtenha o Espírito Santo para os anunciadores do Evangelho. Com a Sua proteção e como penhor de paterna benevolência, concedemos a vós, ao vosso clero e ao vosso povo a Bênção Apostólica.